PAP0173 - A cidade contemporânea e os “não-lugares”
Partimos das noções de “não-lugares” (Marc Augé) e “espaços de fluxos” (Manuel Castells) para pensar a cidade contemporânea. Seguindo Marc Augé a cidade hoje convive com uma série de “riscos”: de uniformidade (semelhança entre espaços), extensão (generalização do urbano) e de implosão (guetização dos bairros). O seu crescimento, associado
ao aumento de circulação, da comunicação e do consumo, implica cada vez mais a construção de “não-lugares”: auto-estradas, grandes supermercados, centros comerciais, aeroportos, etc. Trata-se, segundo Augé, de espaços físicos que vão modelar novas formas de interacção assentes numa “contratualidade solitária”.
Manuel Castells no seu livro A sociedade em rede, vai analisar a nova lógica espacial, resultante da interacção entre tecnologia, sociedade e espaço, denominando-a o "espaço de fluxos" (que se constitui a partir de um conjunto de serviços avançados: finanças, seguros, bens imobiliários, projectos, marketing, e inovação científica, etc.). Esse "espaço de fluxos" opõe-se à organização espacial historicamente enraizada, a que Castells chamou o "espaço dos lugares".
Aproximando o “espaço de fluxos” dos “não-lugares”, procuraremos pensar a forma como uma certa organização espacial, determina ou não, o processo de interacções sociais.
Como último ponto analisaremos o papel da arquitectura na construção dos “lugares” e não-lugares” na cidade contemporânea. Segundo Josep Maria Montaner a sensibilidade da arquitectura contemporânea em relação ao lugar (enquanto um espaço empírico, concreto, existencial e delimitado) é um fenómeno recente. A relação da arquitectura com o lugar tem a ver com a cultura organicista desenvolvida na obra de Frank Lloyd Wright e as propostas dos arquitectos nórdicos encabeçados por Alvar Aalto. Para os autores mencionados: Marc Augé, Manuel Castells e Josep Montaner, a arquitectura contemporânea é uma arquitectura não-histórica e não-cultural. Castells chama a esta arquitectura "arquitectura da nudez" – "a sua mensagem é o silêncio", Marc Augé uma arquitectura dos não-lugares” e Montaner refere que ela se enquadra numa multiplicidade de espaços (mediáticos, não-lugares, ciberespaço), representando um espaço de solidão de incomunicação entre os indivíduos. No entanto, os três autores mantêm presente a possibilidade de outras dinâmicas.