PAP0081 - A condição masculina na vivência com o transtorno mental
Desde a década de 1960, quando cresceu a
produção científica sobre gênero, a maioria dos
estudos na área era sobre as mulheres. Certos
autores consideram que uma das falhas mais
frequentes nesta literatura é a insuficiência
de estudos mais sistematizados sobre a condição
masculina.
Na saúde mental, a questão de gênero ainda é
abordada restritamente, já que muitos dos
estudos dedicam-se apenas à saúde mental da
mulher. Mas certos trabalhos consideram as
diferenças sexuais como fatores relacionados ao
início, prevalência e evolução de alguns
transtornos mentais.
Este trabalho tem como tema a questão de gênero
presente no quotidiano da saúde mental a partir
da experiência de homens portadores de
transtorno mental. Considera-se que
determinantes sociais podem estar associados ao
surgimento de um transtorno mental e aos
impactos do sofrimento psíquico causado por
aquele.
A pergunta de partida do estudo é “O que é ser
homem com transtorno mental?”. A partir do que
Goffman (1996: 112) diz sobre “carreira moral
do doente mental”, pretende-se analisar de que
maneira o homem, em tal “carreira”, vê a si
mesmo e como esta provoca mudanças no “eu da
pessoa e em seu esquema de imagens para julgar
a si mesma e aos outros”? Pretende-se analisar,
com base numa perspectiva sociológica de
gênero, a identidade de homens portadores de
transtorno mental através da vivência de
usuários internados em instituição
psiquiátrica. Pretende-se especificamente:
identificar/analisar as representações dos
homens portadores de transtorno mental sobre as
“causas” de seu transtorno;
identificar/analisar, através da representação
dos homens, os impactos do transtorno nas
esferas da família, das amizades e do trabalho.
O campo empírico é a ala psiquiátrica do
hospital São Marcos, em Braga-Portugal.
Pode se verificar, até o momento, que há uma
relação entre a construção da identidade de
gênero e a eclosão e continuidade do transtorno
destes homens; e que há uma forma predominante
- baseada na masculinidade hegemônica de
Connell(1997) - de vivência para estes homens.
- ALVES, Tahiana Meneses

Tahiana Meneses Alves. Mestranda em Sociologia pela Universidade do Minho. Bacharel em Serviço pela Universidade Federal do Piauí. Mestranda em Políticas Públicas (actualmente interrompido) também pela Universidade do Piauí. Tem interesses principalmente nas seguintes temáticas de investigação: serviço social, políticas públicas, saúde mental, sociologia da saúde, identidades, masculinidades, mulheres e relações de gênero.
PAP0959 - Gays em busca de cidadania no Rio de Janeiro: controvérsias e avanços
Nosso trabalho pretende demonstrar que os homossexuais freqüentadores do trecho da Praia de Ipanema em frente às ruas Farme de Amoedo e Teixeira de Mello, na cidade do Rio deJaneiro, buscam afirmar sua cidadania. Nesse local é freqüente o hasteamento da bandeira do arco-íris símbolo do movimento homossexual no Brasil e no mundo. Nele pode-se observar também comportamentos e atitudes denunciadoras da condição homossexual desses freqüentadores. Por isso, buscamos pensar tal espaço como lócus de afirmação da identidade e da luta política homossexual, bem como identificar alguns valores (de gênero, sexo e cidadania), compartilhados pelos freqüentadores do referido espaço da praia de Ipanema. Para isso, realizamos entrevistas e pesquisa de campo no local. Do ponto de vista teórico nos estribaremos nos textos de Daniel Welzer-Lang, Pierre Bourdieu e Elisabeth Badinter.
Dessa forma, a pesquisa , pretendeu demonstrar que os homossexuais freqüentadores do trecho da Praia de Ipanema em frente às ruas Farme de Amoedo e Teixeira de Mello buscam afirmar sua cidadania. Para isso, consideramos que a demonstração pública de sua orientação sexual é uma estratégia de luta política em prol da mesma. Tal estratégia de luta que, em um primeiro momento pode parecer limitada, tem, porém repercussões nacionais e internacionais contribuindo dessa forma para o avanço das lutas dos homossexuais.Consideramos em nossas reflexões que o trecho da praia de Ipanema, em análise neste trabalho, é um lócus importantíssimo da luta política homossexual, para dar visibilidade pública a homossexualidade como possibilidade fora dos parâmetros heterossexuais e também para reafirmar os pressupostos básicos da homossexualidade como uma condição possível. Nossa afirmação se legitima quando analisamos o resultado da pesquisa realizada pelas fundações, Perseu Abramo e Rosa Luxemburgo, sobre o preconceito e a intolerância da população brasileira contra homossexuais. Nessa pesquisa foram entrevistados 2.014 brasileiros em 150 cidades. Os dados coligidos demonstram que 99% da população brasileira tem preconceito contra homossexuais. Os resultados da pesquisa foram classificados em dois blocos: o dos indivíduos que assumiram não gostar de gays, lésbicas e travestis ou transexuais somando 29% dos entrevistados. Estes consideram os homossexuais como safados, sem caráter e doentes. E o dos que possuem o preco
- PESSANHA , Fábio
PAP0845 - Reconfigurações da masculinidade hegemónica nos corpos envelhecidos: um estudo em idosos praticantes de exercício físico.
O tema das masculinidades, tal como o das feminilidades, não decorre de uma dádiva ontológica, mas passa a existir a partir dos atos das pessoas, e, para além de ter que ser entendido como um processo social, envolve práticas que se referem ao corpo e ao que o corpo faz (Connell, 2000). Na realidade, é um tema que exige uma pluralidade de posicionamentos e não se deve confundir com homens ou com a condição de ser do sexo masculino (Amâncio, 2004), e pode ser definido como uma configuração organizada de prática relativa à estrutura das relações de género (Connell e Messerschmidt, 2005). A masculinidade hegemónica é construída nos lugares onde a expectativa dos homens é ser independente, forte, assertivo, emocionalmente restritivo, competitivo, resistente, agressivo e fisicamente competente (Smith, et al, 2007).
O estudo das masculinidades ganha importância quando estudamos o envelhecimento, uma vez que o declínio das capacidades físicas e motoras dos idosos poderá ser problemática (Calasanti e Slevin, 2001), uma vez que as características da masculinidade dominante que predominam na juventude e se estendem na vida adulta decrescem à medida que se envelhece (Bronfman, 2006). Esta preocupação orienta os homens idosos para actividades saudáveis, nomeadamente para a realização de exercícios físicos regulares.
A presente investigação objectivou conhecer as percepções de idosos acerca do corpo, procurando explorar as suas expectativas relativamente à prática de exercício físico. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas a 22 idosos (68.6±5.4 anos) que iniciaram um programa de exercício físico. Os dados foram posteriormente sujeitos a análise de conteúdo no programa QSRNVivo7. Os resultados apontam que: (i) o envelhecimento aliado à diminuição da funcionalidade, de incapacidade e ao aparecimento de problemas de saúde, parece afastar comportamentos afirmativos da masculinidade; (ii) os idosos tendem a percepcionar o corpo com harmonia, mas a centrar as suas preocupações na funcionalidade; (iii) a disfunção eréctil surge com consequências negativas afastando os comportamentos afirmativos da masculinidade pela sexualidade. Nesse sentido, este estudo sugere que as conjunturas mudam ao longo da vida, sendo que aquando da velhice, ou quando esta se aproxima, as normas ditadas pela masculinidade hegemónica, embora presentes são reafirmadas. A prática de exercício físico parece ser, nesta etapa da vida, um meio determinante para (re)configurar e afirmar a masculinidade do homem idoso.
Estudo no âmbito do Projecto financiado pela FCT (PTDC/DES/102094/2008 (FCOMP-01-0124-FEDER-009587).
- SILVA, Paula

- CARRAPATOSO, Susana
- NOVAIS, Carina

- BOTELHO-GOMES, Paula
- CARVALHO, Joana

Paula Silva nasceu no Porto, Portugal, e é doutorada em Ciências do Desporto pela Faculdade de Desporto da Universidade do Porto onde exerce funções de docência e de investigação no CIAFEL. Desenvolve estudos e projetos de investigação no domínio dos Estudos de Género e Desporto. É autora de vários livros e artigos nacionais e internacionais. Foi distinguida com o Prémio Investigação “Carolina Michaelis de Vasconcelos”, (ex-aequo) em 2007. Vice-presidente da Associação Portuguesa Mulheres e Desporto.
Carina Novais, mestre em sociologia pela Faculdade de Letras desenvolve o seu percurso profissional em investigação científica tendo desenvolvido trabalhos diversos resultantes da pesquisa sobre o género e o desporto na área da infância e adolescência e também no âmbito do envelhecimento ativo participando nos projetos "Iniquidades sociais, ambientais e de género na prática de actividade física e desportiva de adolescentes" e atualmente no projecto "Actividade física objectivamente avaliada e obesidade em adolescentes: Estudo dos determinantes pessoais, sociais e ambientais" no Centro de Investigação em Atividade Física e Lazer da Faculdade do Desporto da Universidade do Porto. Tem também contributos enquanto investigadora na organização "Movimento Democrático de Mulheres" participando num projeto "Uma vida de Trabalhos? Trajetórias Profissionais de Mulheres e Participação cívica" onde desenvolveu o seu projeto de mestrado em torno da temática,"género, família e trabalho" e com a publicação "Percursos de Mulheres: Trabalho e Participação Política de Mulheres na área Metropolitana do Porto".
Joana Carvalho, Professora do Instituto Superior de Tecnologias Avançadas. Doutoranda em Informação e Comunicação em Plataformas Digitais da Universidade de Aveiro e Faculdade de Letras da Universidade do Porto e licenciada em Engenharia Multimédia no ISTEC. Desenvolve atualmente trabalho de investigação em Social Media, Comunicação e Cibermuseologia, dedicando-se a construção da Tese de doutoramento com o título “A adopção de social media por museus como uma ferramenta de comunicação”.
PAP0276 - Sociabilidades masculinas na taberna-café
A comunicação baseia-se na investigação
efectuada para a dissertação de Doutoramento
em Sociologia das Classes e dos Movimentos
Sociais (ISCTE,2009). O objeto de estudo
incide nos estabelecimentos de venda e consumo
de bebidas que designámos por tabernas-café
situadas no concelho de Montemor-o-Novo, Alto
Alentejo, e enquadra-se em duas áreas de
estudo: a de género e a de estratificação
social.
O estudo de caso incide em 138
estabelecimentos (universo total deste tipo de
estabelecimentos no concelho referido) sobre
os quais utilizámos técnicas de observação
direta e indireta e construímos tipologias.
Aprofundámos a análise relativamente aos
clientes numa amostra de 4 tipos diferentes de
tabernas-café. A investigação incidiu nos
estabelecimentos, gerentes e clientes, tendo
sido para isso, criadas fichas de
caracterização.
Situamos a taberna-café como quadro de
interação (AFCosta), inserido num espaço/tempo
de lazer intermediário entre o trabalho e a
família, marcado por sociabilidades semi-
públicas, configurações e diversas formas de
apropriação, que se cruzam na permanência e na
mudança, na tradição e na modernidade.
Analisámos os investimentos sociabilitários e
relacionais produzidos e reproduzidos pelos
agentes, conhecendo as propriedades
estruturais dos diversos lugares onde se
desenvolvem as diversas sociabilidades,
representações e práticas materializadas em
actividades de tempo livre/lazer, ou mesmo
noutras que se situam na esfera económica das
relações sociais de produção e do universo
ideológico e político.
Na taberna-café - espaço acentuadamente
masculino com múltiplas funções - o gesto, o
corpo e a linguagem deixam as suas marcas, num
quadro em que o consumo de bebidas alcoólicas
ocupa um lugar relevante.
Como nota conclusiva constatámos que, se é
verdade que a taberna passou muitas vezes a
café, administrativamente, por transformações
físicas, de clientela, de consumo, ou apenas
na representação que os seus gerentes possuem
dela, por efeito da massificação, globalização
e textualização da sociedade, também é
verdadeiro que o café se tabernizou
incorporando consumos, práticas, funções e
sociabilidades características das tabernas.
- VILLA-LOBOS, Maria José

Maria José Cabral Barata Laboreiro de Villa-Lobos. Email: mjose.vilalobos@eslfb.pt
Doutora em Sociologia das Classes e dos Movimentos Sociais, ISCTE, 2009. Licenciada em Sociologia e Mestre em Culturas Regionais Portuguesas – FCSH.
Formadora de Educação e Formação de Adultos e do Processo RVCC – Nível Secundário, do Centro Novas Oportunidades da Escola Secundária Luís de Freitas Branco.
Formadora de professores no Centro de Formação das Escolas do Concelho de Oeiras.
Interesses de Investigação – Estudos de Género Masculino; Igualdade de Género; Educação e Formação de Adultos.
Publicações
(2011) - “Cultura e Identidade Masculina na Taberna Café”. Memória e Cultura Visual Actas do III Congresso Internacional, Fernando Cruz (Org.), AGIR - Associação para a Investigação e Desenvolvimento Sócio-cultural. Maia.
(2011) - “Atitudes perante a doença: estudo de caso”. Saúde, Cultura e Sociedade, Actas do VI Congresso Internacional, Fernando Cruz (Org.), AGIR - Associação para a Investigação e Desenvolvimento Sócio-cultural, Maia, 2011.
(2005) - “A taberna como pólo de desenvolvimento sociocultural”, III Congresso Internacional de Investigação e Desenvolvimento Sócio-cultural, AGIR.
(2004) “A pesquisa de terreno na taberna: a interacção investigadora /agentes”,
V Congresso Português de Sociologia, Associação Portuguesa de Sociologia (A.P.S.).
(2002) - “O “O eixo da herança numa aldeia da Serra da Estrela”, IV Congresso Português de Sociologia - Passados recentes, futuros próximos, Associação Portuguesa de Sociologia (A.P.S.).
(2001) - “A Taberna entre a tradição e a modernidade: uma aproximação à análise deste território como espaço de relações de inclusão e de exclusão produzidas pelos seus utilizadores”, Forum Sociológico - Olhares sobre a Modernidade, Instituto de Estudos e Divulgação Sociológica, nº5/6 (2ª série) Departamento de Sociologia da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
(1999) - “Atitudes perante a Morte numa aldeia da Beira-Baixa”, Forum Sociológico,
Do Corpo e da Alma, Instituto de Estudos e Divulgação Sociológica, nº 1/2
(2ª série) Departamento de Sociologia da FCSH da UNL.